Por Nicole Fernandes, Bacharela em Serviço social, feminista, militante da Primavera Socialista e do PSOL Amazonas
O mundo está vivenciando uma das suas piores crises com o surgimento da COVID-19, com mais de 2,6 milhões de infectados e mais de 190 mil óbitos, até a data de hoje. É nesse contexto que o caos da Saúde Pública no Amazonas está repercutindo nacional e internacionalmente. Dentre as principais causas do colapso do sistema público de saúde amazonense, podemos destacar: o permanente descaso nas políticas de investimento; as graves denúncias de corrupção; o favorecimento de empresas ligadas a políticos; o despreparo dos atuais governantes; a falta de infraestrutura e saneamento adequados; e, finalmente, o desemprego estrutural. Essa situação não difere muito da realidade nacional, mas traz o agravante de que o estado vem sendo saqueado e sucateado pelos mesmos grupos políticos há mais de três décadas.
É sabido que a lógica liberal impõe sua visão de saúde curativa, em vez de primar pela saúde preventiva, menos onerosa e mais eficiente, como já comprovado em inúmeros estudos científicos, mas que sempre são desconsiderados, por confrontar os interesses dos grandes grupos econômicos que mercantilizam a saúde. Nesse contexto, as primeiras medidas tomadas pelos governantes estadual e municipal, foram tímidas e bastante flexíveis, ainda sob a lógica de defender a economia. A ideia de isolamento social, portanto, não foi estimulada como deveria, mesmo que as autoridades da área da saúde tivessem alertado sobre a fragilidade do sistema público e o alto risco da pandemia.
O primeiro caso confirmado da COVID-19 no Amazonas ocorreu em 13 de março, na capital Manaus. Após 44 dias, esse número saltou para 2.722 (71 %) na capital, Manaus e 1.111( 29%) no interior do estado, totalizando 3.883 casos e 304 óbitos, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) no dia 26 de abril. Assim, 46 dos 62 municípios amazonenses apresentam casos confirmados de coronavírus. Isso significa que o estado levou 28 dias para atingir mil infectados, apenas oito dias para ultrapassar a casa de 2 mil, passando a marca dos 3 mil em 1 dia, fazendo com que o Amazonas tenha a maior taxa de contaminação por 100 mil habitantes entre todos os estados, ou seja, quase o triplo da taxa nacional.
A partir desses dados, é possível destacar três fatores cruciais que vêm contribuindo para o colapso do sistema de saúde amazonense. O primeiro refere-se à baixíssima quantidade de leitos de UTI por habitante – atualmente 682, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) – algo em torno de 13 por 100 mil e 66% para o uso em casos de COVID-19. Apesar disso, o Amazonas recebeu 20 respiradores do Governo Federal e o governador comprou mais 28, fato que está sob suspeita de serem inadequados, superfaturados em 316% e, de qualquer modo em número insuficiente.
O segundo fator crucial que corrobora para o caos amazonense, tem a ver com questões climáticas. Estamos no final do período chuvoso amazônico, e este é o período em que os índices de várias doenças respiratórias sempre aumentam. Dengue, Zika, H1N1, pneumonia, entre outras, também continuam acometendo a população e agravam o cenário da subnotificação dos casos de COVID 19, uma vez que, segundo o próprio prefeito de Manaus, o contágio comunitário, somado ao colapso no atendimento, já traz registros de óbitos nas residências e, consequentemente, a perda de controle dos órgãos responsáveis pelos dados estatísticos oficiais. Estima-se que essa subnotificação eleve em três vezes mais os números de infectados e de óbitos.
Por fim, temos a baixa adesão da população ao isolamento, que está em torno de 47%. Talvez por que parte significativa desta população se encontra alinhada às orientações de líderes religiosos ou políticos que minimizam a gravidade da pandemia e incentivam as pessoas a voltarem às suas rotinas. Some-se a isso, como já mencionado, a realidade social que apresenta um índice altíssimo de desemprego e informalidade, dificultando, sobremaneira, o cumprimento do isolamento social por parte da classe trabalhadora subalterna.
Diante disto, há muito a ser feito, como as políticas de atenção às populações indígenas e ribeirinhas, e atenção mais efetiva às mulheres, às trabalhadoras e trabalhadores informais e demais grupos que estão sendo mais atingidos por essa pandemia. A nós, organizações da esquerda socialista, o desafio foi lançado: continuar a luta contra o sucateamento do SUS e das demais políticas sociais, além do combate à retirada de direitos da classe trabalhadora, seja no estado do Amazonas, seja em todo o país, combatendo incisivamente os desmandos do governo Bolsonaro e a irracionalidade trazida pelo liberalismo, que impõe o lucro, acima da vida!
Fonte: https://psol50.org.br
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